- Instantes que podem mudar uma vida -

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Para longe ela arremessa as peças de roupa que nunca usou – que no armário ficaram esperando pelo dia que ela acreditaria na ilusão que os tecidos de musselina representavam.
Na sola dos sapatos, nos CDS, nos vestidos de algodão que ela desesperadamente empurra numa mala qualquer, vão todas as respostas e desculpas e razões que ninguém jamais chegou a lhe perguntar, embora as guarde, todas, dentro das caixas onde esconde seus sentimentos da cólera alheia e do seu medo infantil de esquecê-los.
Não adianta, ela pensa cada vez que encontra o próprio olhar refletido no espelho, ela precisa continuar abrindo caminho entre suas feridas mal cicatrizadas, mesmo que ainda não saiba onde elas terminam ou onde a dor começa. Pois todas as razões que tem para ficar, continuam mudando, e todas as respostas para suas dúvidas também.
Ela simplesmente não quer mais desperdiçar a vida esperando pelas duas.
As únicas coisas que a espera foi capaz de ensinar já não importam mais.
As máscaras caíram e só lhe restavam os olhos escuros e inchados.
Voltada sobre si mesma ela sabe que para se ver livre de suas mentiras, das aparências, e até mesmo das posses, precisa trocar de volta todos os benefícios do berço e da sensatez por toda a simplicidade do sonho.
Mesmo que seu sonho esteja muito além do que ela pode ver agora em seus olhos negros e decididos.

Setembro de 2008

Shelhass
Baseada na música Slow Down por Ben Jelen.

Comentários

Camila disse…
A imagem tá fofa, só isso.
E o texto: perfect.

Quantos não tem uma mala dessa? A hora da decisão sempre deixa meus olhos inchados, e mais claros.


Beijos querida
Deborah disse…
Impressionante como curto os teus textos. Eles são tão fluidos!