- A necessidade de não ser inocente -

Born Yesterday by Rob Dougan on Grooveshark

Eu odeio parada. Acho inútil e tolo. Fútil e sem necessidade. Mas hoje por um motivo completamente diferente o ritmo da marcha me encanta. As cores das fantasias e uniformes parecem lindas e brilhantes. E os carros enfeitados são ainda melhores.
E me pego sorrindo. Um sorriso próprio. Encantado, deslumbrado. O sorriso que o meu eu criança deve ter dado várias vezes quando tudo isso ainda era fascinante – quase como agora. Quando a cavalaria se aproxima e não me afasto do lugar ainda hipnotizada pela grandeza do animal imponente.
De repente alguém segura minha mão e me arrasta para trás sem cerimônia.
- Cuidado aí, hein!
Eu nem preciso olhar para saber quem está falando, mas não é isso que me incomoda naquele momento. O que me desconforta e tira meu sorriso infantil do rosto é sua mão na minha. E antes que eu pense nisso retiro-a da minha sem qualquer cerimônia, um movimento que seria mais adequado caso uma sanguessuga me tivesse atacado. Quem sabe não fosse isso?
Logo, meu interesse por toda aquela fanfarra se vai e no lugar dela ondas de um sentimento nada agradável me fazem respirar fundo, controlando a força do choque em minhas barreiras.

Mas fazer aquilo era a cara dela.
Como se ela esperasse exatamente aquele momento para lembrar-me que estava comigo, atenta para não me deixar ser levada pelas ondas e me perder de vista. Pois em sua mente ela acredita mesmo que eu não seria nem mesmo capaz de lembrar meu nome e dizer “me ajude a voltar para casa”.
Mas eu sei que deixei isso acontecer. Deixei-a crer que nada sei; nada posso fazer. Deixei-a abusar de mim em cada palavra dura, em comentários venenosos, em atitudes violentas. Quantas vezes não me arrancou um pedaço e agiu como se não fosse nada só porque não chorei e lhe disse o quanto doía?

Mas essa era eu. Com um sorriso inocente no rosto, lhe pedindo que tomasse conta de mim, pois eu acreditava que não sabia mesmo nada.
E depois de tantos anos, ela não é capaz de enxergar que tudo isso mudou. Ela não enxerga que meus sonhos não são mais pequenos contos de fada. Ela não entende que só porque ainda estou aqui, não quer dizer, que amanhã não possa ir-me. E só porque nada digo, não significa que nada tenho a dizer.
Eu lhe dou as costas e vou andando com passos firmes no ritmo da marcha que me acompanha – a do meu coração. Em menos tempo do que imaginei, ela me alcança, tenta me segurar pelo pulso, mas me desvencilho de seu toque.
Lentamente me viro e lhe dou um olhar vazio e um sorriso duro, pois é só o que tenho para lhe oferecer. E antes que ela possa usar do mesmo velho truque eu lhe digo:
- Não pense em me seguir. Nem pense em me impedir de fazer o que tenho de fazer. Não pense que ainda sou inocente o suficiente para acreditar nas suas intenções. Aliás, não faça nada, só me esqueça.
Eu volto a caminhar. Cada passo é um novo andar. Tão desajeitado quanto eu, que acabei de nascer de verdade. Sorrindo com minha primeira conquista. 



Shelhass
Baseada em Born Yesterday por Rob Dougan e levemente inspirada pelo maravilhoso drama coreano Nice Guy (세상 어디에도 없는 착한남자).

Comentários

Gabriel Pozzi disse…
oh não, então vou ficar sem saber seu nome por mais tempo, é isso? haha
poxa, me diga algum codinome então para eu te chamar... vai facilitar as coisas, sabe? hahahaha

ah! adoraria um texto baseado em Gone do Thirteen Senses! ^^
com certeza sairá coisa boa daí!

e esse seu texto de "hoje"... eu diria que fala da liberdade.
sim, aquela de dizer o que não teria coragem de dizer tempos atrás, aquela que vem pra iniciar uma nova fase da vida, aquela que te prova mais maduro e confiante!

uma liberdade que te faz crescer.

http://songsweetsong.blogspot.com.br/