- Uns*. We**. Nós. - #3 -

Clueso - Beinah from clueso on Vimeo.


Eu tive Saudades. Dos mínimos aos mais óbvios detalhes. Depois tive medo. Medo de cair e nunca mais parar, nunca chegar a lugar algum. Em seguida desespero. Batendo braços e pernas pra não descer ao fundo. E enquanto tudo isso acontecia eu pensava apenas em todos os meus erros, tentando pesar minhas decisões falhas e rezando para que eu pudesse corrigi-las a tempo, mas tempo não tive e a única oportunidade me foi roubada. Roubada por ti. Quanta ironia.
O encanto do nosso encontro foi mais forte. Tão forte quanto o gosto de Camel ou a densidade da fumaça dançando nos meus olhos. As luzes brilhantes de um Boxing Day tipicamente britânico me hipnotizava. E lá estavas sentado nos degraus levianamente olhando-me por entre os cílios. Tinhas as maças do rosto queimando do frio, o olhar duro e uma atitude tão seca quanto minha boca. Quanto tempo faz...
O que exatamente te fez me procurar depois eu não tenho como saber. Se foi mesmo o modo como meus cabelos brilhavam sob as luzes ou a forma como eu os bagunçava... já nem me importo mais. Quanto mais penso nisso mais me convenço de que tudo não passou de uma brincadeira. Jogamos, apostamos e perdemos juntos, a diferença está apenas no que desejávamos ganhar. Eu corri, pulei e me desdobrei por entre os obstáculos que tivemos tentando fazer o que era certo, para que déssemos certo, mas e quanto a ti, o que esperavas de mim?
Quanto de mim realmente aceitastes de braços abertos e o quanto desejavas moldar a tua vontade? Quanto do meu ritmo realmente acompanhastes? Estou te magoando agora ao provar que meus sonhos românticos já foram enterrados entre os ângulos que nunca te permiti chegar? Pois sim, é verdade, eu quase te amei.
E não foi graças à profundidade das tuas adagas venenosas na minha carne, ou dos pedaços de nós que me lançastes em teus momentos de raiva. Foi do pouco que eu tive coragem de aceitar. Das tuas passagens cinzentas, do teu jogo de espelhos e neblina, do brilho solitário no teu olhar e até mesmo da tua voz no meu silêncio. Foi por isso que quase te amei. E por isso chegamos aqui, não entende? Eu sabia de cada passo que eu dava. Eu podia ouvir as batidas se eu fechasse os olhos por um minuto. Eu não caí, my darling, eu despenquei. Fui enganada pelas tuas passagens escondidas e pelos becos sem saída. Assim destruístes o que quase senti por ti. E no desespero arranquei teus punhais e a cada lágrima derramada, a cada ligação caindo em caixa-postal, cada palavra escrita, uma lasca do que fomos, do que somos e quem sabe do que poderíamos ser foi caindo ao chão, foi se espalhando ao meu redor como as faíscas de uma Roman candle.
E nos estilhaços do que foi o coração que eu quase te dei, eu pude entender que ele não seria o suficiente. Nem para mim, nem para ti. Menos ainda para nós. Deverias ter me deixando no meu mundo, mas agora que entendi onde erramos, eu posso fazer isso, eu posso finalmente te deixar ir, mesmo que tenhas partido primeiro.
Agora eu não posso mais guardar nada de Nós. Nem de quando fomos We, ou se pudéssemos ser Uns. Aos poucos estou aprendendo a te deixar ir. Aos poucos eu vou te encontrando enterrado na pele e aos poucos vou te dizendo adeus. Mais uma vez é só o que posso te ofertar. Como poderias tu esperar meu coração quando pisastes nele ao atravessares meu caminho? Poderia ser irônico, mas só tenho humor para o que é triste. E foi por tão pouco.
Por tão pouco eu não te amei de verdade. Um pouco mais de tempo e terias me segurado na palma das mãos – e a ironia me persegue quando vejo que a primeira vez que escrevi sobre nós eu falei sobre isso, mãos que seguram. Por tão pouco - um triz, ou um dedo? – não me ganhastes.
Mais um dia e eu não teria escapado das tuas redes. Menos do que eu te disse, do que escrevemos, do que me esperastes e eu quase teria me arremessado nos teus braços. E mais do que um adeus, neste momento eu gostaria de te oferecer meu respeito – se de algum valor ele for – ou somente minha gratidão – se ela puder ser recebida. Eu quase te dei mais do que eu posso, mais do que tenho, eu quase me permiti jogar tudo pro alto.
Quase, quase que eu te amei e por mais verdadeiro que isso tenha sido, teu falso amor não foi capaz de me prender.
Quase, quase que desvendastes.
Mais um pouco e eu teria trocado tudo por nós.


Shelhass
Baseada na música Beinah por Clueso e no videoclipe da mesma.

*do alemão; Nós
**do inglês; Nós

Comentários

Gabriel Pozzi disse…
"se ofender com Clueso"? mas que bobagem! tantas musicas ofensivas no mundo e a gente ia se ofender com uma banda bacana? hahahaha

acabou, então? muita gente considera o "quase" como uma frustração, mas a ideia é sempre ver o lado bom... aparentemente o quase evita também muita coisa negativa que não nos acrescentaria nada em nossa vida, apenas experiências ruins que podemos pular, podemos "não vivenciar"...

ah, eu sei que as palavras em negrito tem a ver com o clipe, e tudo mais, só que fico pensando se construiu seu texto em cima delas... não sei, algo como... colocou todas as palavras chaves em ordem, depois começou a escrever lutando para encaixá-las... parece divertido, não? se não foi assim, você poderia tentar!! hahahaha

ah, feliz ano novo! plectrum... eu aprendi essa! haushaush ^^

songsweetsong.blogspot.com
Anônimo disse…
De uma garota que leu taaaaaaanto, só dá pra esperar o melhor mesmo =)!
Dayane disse…
Mudei de blog, agora é http://eterea-essencia.blogspot.com