- Filtrando os detalhes que não deveriam ser percebidos* -

Eu imaginei que estava curada dessa coisa; dessa coisa estranha que me doma aos poucos como se eu estivesse me afogando e devesse sentir cada minúsculo pedaço do processo de morte. Não eu não estou nem perto do que as pessoas chamam de morte, embora pareça tão assustador quanto.
E eu tinha certeza que estava segura atrás do meu escudo literário, das sobrancelhas levantadas em desdém e da falta de educação proposital. Mas você me enganou diretinho, porque apostou alto que eu era uma tola e acertou.
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I - Feel my world crumbling down

Então você veio e me deu do meu remédio amargo, e eu engoli com vontade, para provar que era forte. Fingi que você nem chegara perto da minha muralha, quando na verdade estava derrubando minhas paredes como se elas fossem os papéis que eu lia. E eu disse a mim mesma que Platão estava certo e tudo isso era platônico. E esqueça as borboletas, quem foi que disse que o estômago da gente é lugar para elas irem bater asas?
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II - Feel my life crumbling now

Então você veio armado com suas cordas de náilon, seduzindo a minha parte mais maleável, num truque que eu caí por vontade própria porque não sabia negar nada a minha musicalidade. Esperei por alguma coisa patética como Wonderwall, mas você me disse a que veio numa das introduções mais belas que Bellamy já cantou. Quem disse que meu coração bateu mais forte? Eu apenas estava mais atenta para o fato de que ele estava fazendo seu trabalho, só isso.
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III - Feel my soul crumbling away

Então eu resolvi que deveria me entupir de cafeína e cheguei atrasada, tão atrasada que não vi as engrenagens rodarem e me deixarem frente a frente com você. E mais uma vez Steinbeck me protegeu do seu olhar curioso e Keane das suas perguntas traiçoeiras. Mas eu deixei o escuro do projetor me dar uma falsa segurança e fechei os olhos. E de repente a ponta dos seus dedos fez pressão no algodão da minha camisa. E eu gritei não, quando a minha pele repetia nos poros o seu toque.
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IV - Falling away...

E cá estou eu outra vez tentando não escrever as palavras que dançam nos meus dedos. Tentando não pensar em como é difícil não te procurar no meio da multidão e observar teu sorriso enviesado. E é simplesmente tão errado. Você pode não saber ainda, mas é assim que eu sou. Sou do tipo que é capaz de sufocar os próprios sorrisos até que eles fiquem roxos só para não mostrar os dentes e de morder a própria língua para não destilar veneno e desacreditar cada pequeno pensamento para não cair em autocomiseração. Sou capaz de fechar os olhos e me negar o mundo se isso me proteger do que não posso e não devo aceitar.
Porque eu me recuso. Me recuso a ser tomada dessa forma, como se eu fosse um bichinho que pede para ser afagado. Me recuso a descobrir porque você me fascina com sua camisa cinza sem graça, ou sua estranha mania de sair mais cedo. Me recuso a abandonar minha zona de conforto e ser jogada no tornado de sentimentos que, eu sei, me esperam se eu me deixar cair.
Se eu me deixar (apenas) apaixonar por você.
Porque eu vou te dizer que essa é a coisa mais estúpida que eu poderia fazer, justo agora. Justo agora que eu aprendi que o meu mal não é ter dificuldade de dizer que tenho sentimentos ternos, mas sim de descobrir que eles são inúteis e eu poderia fazer algo mais rápido para destroçar minhas entranhas como mastigar vidro e engolir três litros de fel.


Shelhass
Baseada na música Falling Away With You por Muse.
*Baseado em fatos reais