- Através do Tempo -

29 de Outubro, 2005 – 23: 07
Vestida no meu pijama de algodão eu sento em frente a televisão, quando metade de um filme de terror já está em andamento e somente depois que a garota saiu do carro correndo eu percebo que estive esperando você aparecer e se juntar a mim.

10 de Novembro, 2005 – 08: 32
Eu enxugo o rosto na toalha macia e depois passo a mão pelo rosto procurando suavizar as marcas do lençol, passando pelos lábios, que por instinto se partem lentamente. Eu sento três dedos sobre eles, ignorando o ressecamento, e apenas sentido um sussurro seu neles.

7 de Dezembro, 2005 – 16: 17
Enclino-me em frente ao computador apertando os nós no pescoço, sentindo dor e alivio simultaneamente, dobro minha cabeça para o lado e por um momento é você a sensação que eu tenho sobre a ponta dos dedos demoradamente subindo pela linha do meu maxilar e como o suspiro em meus lábios, tão vivos como desconforto e prazer nos meus músculos.

19 de Janeiro, 2006 – 20: 23
Eu largo minha toalha sobre a cama e procuro pelo hidratante na penteadeira. Com as mãos lambuzadas eu percorro meu corpo começando do tornozelo e de repente os calafrios que começaram quando deslizei minhas mãos pela coxa e subindo que parecem entranhar nas minhas pintas e pêlos são como a sensação da ponta dos seus dedos, do suspiro dos seus lábios, queimando intensamente em cada um dos meus microscópicos poros.

12 de Março, 2006 – 00: 42
Eu viro novamente na cama imensa, buscando um pedaço mais confortável no colchão, afofo os travesseiros e puxo mais para cima o lençol. Antes mesmo de fechar os olhos eu viro novamente para o outro lado e suspiro inconscientemente. Sem medo de fechar os olhos dessa vez eu deixo as lembranças me abraçarem com o calor do seu toque na minha pele, a sensação da ponta dos seus dedos levemente na minha coluna subindo, até a sombra dos seus lábios nos meus, enquanto o sono me draga para o fim de mais um dia dessa substituição de você.

31 de Maio, 2006 – 13: 53
Vou direto para o balcão no fundo da sala, sacudindo precariamente o traje por baixo da capa preta. Entrego minha nota e meu vestido o mais rápido que posso, mas sou atrasada pela inspeção da funcionária, que some por uma saleta lateral. Sou abordada por uma jovem desmiolada, que fora ingênua o suficiente para dirigir-me a palavra e perguntar se eu acho que aquele vestido de noiva combina mais com um arranjo do que com uma tiara. Mais amarga impossível, eu lhe dou um olhar gelado e digo que ela deveria se enforcar antes de querer subir ao altar e desapareço da loja antes que comece a botar fogo em tudo.

25 de Agosto, 2006 – 18: 05
Eu estou tentando achar um modo seguro de me afastar da festa o suficiente até que eu consiga uma boa desculpa para ir embora, quando esbarro num sujeito não muito mais alto do que eu e quase peço desculpas/agradeço quando ele me segura pelo braço me impedindo de enfiar meu salto 10 na área com grama e lama. As palavras ficam presas em algum ponto do meu esôfago quando o fogo se alastrando daquele toque para outro, cheio de mãos e digitais, comprimindo e marcando em brasas a respiração que sai da outra boca e entra na minha. Juro que vou sufocar quando ele pára e se arranca de mim como quem saindo de um transe e se vai me deixando plantada no chão como se eu tivesse enfeitiçada.

26 de Setembro, 2006 – 01: 15
Acho que nunca estive pior. Agora assisto, acordo, trabalho, me banho, sonho, entrego e me escondo, dia após dia, não vivendo desses pensamentos sem você.


Shelhass
Baseada na música Days Go Bye (Acoustic) por Dirty Vegas.