desconhecido
Desenho círculos infinitos na ponta dos teus dedos com a ponta do meu dedo enquanto ouço os segundos passando no teu relógio de pulso. Me faz pensar em como minhas digitais encostam nas tuas falanges quando nos despedimos e balançamos os braços de leve, dependurados nesse momento.
O brilho dos teus olhos faz com que eu me veja de uma forma que não me reconheço e um pensamento me perturba. Será que tu me conheces? E dessa dúvida, outras vão surgindo e me fazendo questionar se isso que sinto por ti é verdadeiro. Sem perceber eu te machuco apertando demais tua mão - marcando tua palma com as curvas das minhas unhas. Te peço desculpas pela desatenção, mas volto pra casa me perguntando como pude não perceber.
Sendo honesta contigo é exaustivo reparar os estragos anteriores pra te proteger das minhas sombras; nem sei mais como reconstruir os limites necessários para que não sejamos soterrados por destroços passados. Mas tenho medo dessa luz nos teus olhos esvaecer e por isso sigo tentando conter teu ímpeto de observar entre as frestas dos meus cabelos na esperança de enxergar o que estou escondendo.
E apesar de ser essa estranha que pensas conhecer, não deixo de acreditar que esse sentimento crescendo entre nós se fortalece cada vez que soltas a minha mão e a buscas de volta sem perceber. Confesso que muitas vezes eu a coloco mais facilmente ao teu alcance só pra ver o que acontece. Mas e se eu não fizesse, o que aconteceria? Tu a buscaria mesmo assim ou com o tempo ela deixaria de te dar o suporte que esperas? Viria ela novamente a te machucar?
Enquanto tuas mensagens vão surgindo rapidamente na tela do meu celular e eu leio cada frase com um sorriso amoroso aquele medo de a pouco se arrasta pra debaixo da pele e eu me debato com as palavras que desejo escrever, mas me decido por digitar qualquer coisa sem me comprometer. Mas se eu pudesse, se eu realmente pudesse, eu te dedicaria os verbetes mais delicados do meu dicionário; entrelaçaria os meus braços nos teus; te apresentaria aos cantos mais profundos da minha alma. E então, quem sabe, teus olhos cintilassem com as surpresas dessas descobertas.
Mas, ... e se eu não puder? Se eu não puder, o que vai ser de nós?
shelhass, escrita original em março de 2024
Baseada na música If I Am A Stranger por Ryan Adams
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