intrusivo

Levanto-me lentamente. Meu corpo dói e pesa. Aperto os olhos tentando lembrar sobre o que estava sonhando, mas é cansativo fazer esse esforço, meu corpo inteiro parece disposto a não funcionar. Me jogo de volta na cama e algumas imagens passam pela minha mente. Ah sim! – eu penso. Talvez fosse melhor nem sonhar algumas vezes. Ou não lembrar. O que for menos doloroso.
Saio da cama cheia de coisas que não consigo identificar. Sigo o dia como se no piloto automático; mal sei o que fiz ou estou fazendo. Se tento me concentrar, tudo o que sinto é dor, então faço o que posso. Tudo é um grande borrão – por vezes das lágrimas se acumulando nos meus olhos enquanto busco contê-las. E eu nem sei de verdade como consigo não me despedaçar a cada passo que dou. É como se a qualquer momento esse fiapo invisível mantendo tudo no lugar fosse partir e sabe-se lá o que sobrará em pé. Mas sigo tentado o máximo que posso. Pelo amor de Deus, eu só preciso sobreviver mais esse dia. Pode ser?!
E nada muda. Passo mal até nos meus sonhos, dia após dia de dias que passam por mim sem que eu perceba, mas que parecem me atropelar. Meus passos seguem arrastados e ando só, assaltada volta e meia pelas sombras das coisas ao meu redor, de tudo que fez parte dessa coisa de “nós”. Quem foi que disse que amor traz felicidade? - eu penso enquanto chego ao meu destino. Ultimamente tudo o que tenho recebido é indiferença. Tudo o que vejo são suas costas viradas pra mim.
Será que é tão difícil assim olhar nos meus olhos pelo menos uma vez? Será que é porque você sabe que mesmo tentando eu já cheguei ao limite? Tem ideia do quanto isso me machuca? E se fosse você, hein? E se você pudesse estar no meu lugar, vivendo cada segundo amargo desses dias, será que você finalmente entenderia? Como se sentiria? Será que entenderia como é estar despedaçada? Com toda essa dor preenchendo as cavidades do meu peito a ponto de explodir, do tanto, tanto que preciso de você. Não é possível que não saiba que se dependesse unicamente de mim, você simplesmente me amaria de volta.
Mas eu sei que você já me deu todas essas respostas. Eu reconheço cada uma delas no silêncio desse espaço vazio entre nós - eu só finjo que ainda não sei.
Por isso sigo pensando se você sabe como eu tenho passado. Se você sequer imagina que eu mal posso dormir com tanta coisa presa na garganta. Me surpreende ver o quanto você consegue me magoar. Cada vez que nos encontramos, alguma parte dentro de mim se descola e vem abaixo, como uma casa deteriorada que eu tento consertar sozinha sem a menor ideia de como se conserta algo. Meu peito se contraí tão forte que sinto que é assim que se morre aos poucos. E mesmo sabendo que você não virá me socorrer e que você inclusive só tem olhos pro horizonte, eu não sei se consigo te deixar ir. 

shelhass, escrita original em setembro, 2022 (editado em 18/08/2025) 
Baseada na música 너였다면 por Jung Seung Hwan [정승한]

Comentários