perdas e danos*
Aos 18 anos tirei minha carteira de motorista, como quase todos os jovens de classe média do meu convívio, mas nunca me ensinaram a como dirigir minha vida. Por isso, aceitei a primeira mão estendida e parti. Fui arrastada de um canto ao outro para aprender a sobreviver ao conteúdo escolar e acadêmico; para saber como me alimentar sozinha; como me virar com uma doença; consertar e usar máquinas úteis, assim como trocar uma lâmpada, uma torneira, um pneu. Eu poderia sobreviver a uma guerra, uma avalanche, um naufrágio, mas quando por fim uma pandemia chegou, eu já estava cansada, cansada de só sobreviver. E quando olho pra trás eu mal posso acreditar em como meu coração responde as dores de outrora. E pela menor fração do segundo seguinte eu percebo novamente que eu consegui, que apesar daquilo que já não lembro, eu continuo aqui. Enquanto criança eu tentava ser forte, mas me escondia em cantos escuros para poder chorar e soluçar e algumas vezes até gritar tudo aquilo que me forçavam a ...