Das luzes e alma
Nesses dias em que tudo parece simples e bom e normal, e existem luzes brilhantes e você deveria estar feliz e não está, porque nada faz sentido. Não quando você está no meio delas, sozinho, no escuro. Você anda e levanta a cabeça. E sorri e dá meia volta. E ouve cada palavra deles simplesmente porque eles podem. Seus passos são fortes e só. Pois na sequência tudo o que você faz é cair.
Cai na bagunça de lençóis e travesseiros.
Cai no choro. Num choro que quer dizer as tristezas mais profundas, as notas mais dramáticas da única música que quer ouvir ou até mesmo daquilo preso lá dentro; aquele pedaço sozinho, perdido e desesperado que não sabe de onde vem nem o que significa, mas que só sabe suspirar cansado o medo.
Como o compasso da canção. Medo. Medo. Medo.
Como o pulso do coração. Medo. Medo. Medo.
Nessas horas aonde o sol se vai pela janela e há tanto por ser feito, mas você não consegue ficar de pé e não existe motivo para ser forte. Quem disse que deve ser assim? Que você tem que sempre ser sorrisos, ser feliz, ser educado e amado e amante e eterno e belo e inteiro quando o compasso grita medo, medo, medo. E a escuridão toma tudo e há apenas essas luzes brilhantes.
Está tudo perdido, não vê?
Estamos todos perdidos eu e você.
Perdidos nesse mundo e nas convenções. Nesses valores que não significam uma lágrima derramada, mas que pedem para ser derramadas, já que alguém precisa sentir falta, alguém precisa lamentar essas dores e dúvidas que vem não sei de onde nem por que.
Pelos soluços e dor daquilo que se esconde no fundo.
Pelas almas e corpos que estão de luto.
Nesses segundos finais que falam alto do vazio, do medo e da dor e dessa escuridão, mas eu nada disso quero ver ou sentir, então vou chorar e chorar e chorar, com o pulsar e o compasso pelas vidas vazias, por minha alma perdida, pela luz que se apagou.
“A minha luz se apagou. Não existe nada mais negro do que um pavio”.
John Steinbeck
O Inverno da Nossa Desesperança
Parte Dois – Cap. 22
shelhass, escrita original em jul. 2010
Baseado na música Lost Souls por Doves e no livro The Winter Of Our Discontent (O Inverno da Nossa Desesperança) de John Steinbeck.
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