Lacerado

São momentos como este no qual te escondes por detrás desses óculos quadrados que me pergunto desde quando tenho ignorado os sinais. Eu, cuja maior fraqueza fora sempre a inabilidade de entender sutilezas, até mesmo eu, tenho percebido essas desculpas vazias e os segundos de silêncio e surpresa que antecedem cada uma delas.
E então, tenho essa dupla sensação de que te vejo pela primeira vez, mas que te conheço desde sempre. Como um desconhecido cujo rosto é familiar. Como um déjà vu. Como um sonho. Como as perguntas que me faço em pensamento.
Isso sou eu te odiando?
Sou eu te odiando como nunca mais havia feito?
Ou isso sou eu te amando?
Te amando novamente, mesmo que eu não tenha certeza?
E reconheço que não é a primeira vez que me faço essas perguntas, não é a primeira vez que duvido ou tenho medo. Nem sequer é a primeira vez que sinto estar à beira das lagrimas. Se eu chorar tudo o que posso por nós, serei capaz de alcançar algo?
Ao som do teu suspiro (Cansado? Desarmado?) minha mente desiste de responder qualquer coisa, visto que é tarde demais. O tempo já vira e fora e voltara e está tudo bem se tudo o que tens para mim são palavras de inverdades. Tanto faz.
Seja o que for esse sentimento, ainda avanço em tua direção, braços abertos. E teu abraço é forte e seguro como nos primeiros dias, igual ao meu desejo de ultrapassar teu peito, te perfurar o coração, me alojar nas tuas paredes e nunca, nunca mais te deixar.
E se eu nunca mais puder te deixar porque de fato estou te amando, como nem sequer me sabia mais ser capaz, então não terei medo de te soltar, porque mesmo que eu o faça, estarás para sempre comigo e o tempo haverá de passar por nós gentilmente.
O teu sorriso sopra de leve meus cabelos e só assim me dou conta de que todas essas palavras saíram de minha boca sem querer.
Então, pondo a mão de cada lado do teu rosto magro e gentil te digo claramente que não deves brincar com meu coração desse jeito, e se desejas fazê-lo que me esfaqueie no peito de uma vez e me deixes vazia, pois se não puder sentir o que sinto nesse momento, melhor que nunca mais sinta nada. 

shelhass, escrita orginal entre 2013/2014.
Baseada na música Tsuki to Knife por Suga Shikao.

Comentários