26.09
Pelos fones de ouvido ouço o som das cordas arranhadas. As notas ressoam em minha
mente, meu corpo, meu coração. Numa língua que tanto eu quanto tu desconhecemos
por completo, traduzo coisas que desejo poder te dizer neste dia especial. Eu
penso nisso, deitada ao lado das tuas camisas encardidas, que acabei trazendo
comigo sem querer.
Depois
de um tempo, adormecida; sonho. Estou andando por entre as barracas coloridas
desta pequena feira de artesanato local. As pessoas andam de um lado para
outro, entretidas com os objetos expostos. Eu olho em volta, respirando o ar fresco de
outono, cheio de vida e de calor nesse final de semana ligeiramente ensolarado
e aos poucos noto que a mesma canção toca nos auto-falantes.
As
palavras me tocam e não percebo que a multidão me empurra para o lado. E de
repente o som vivo ao meu redor explode, como se eu tivesse emergido da água. O
ruído dos carros, dos passos, das vozes, me faz sorrir mais do que eu teria da
piada idiota que alguém diz logo atrás de mim.
Meus
pés finalmente se movem. Ando olhando para os lados, nem sei por que estou a
tua procura, imaginando se estás usando aquela camiseta cinza com uma prancha
de surfe estampada nas costas. Me pergunto o que exatamente eu te diria nesse
momento. As palavras me fogem.
Penso
na minha língua nativa e ainda assim, não sei o que dizer. Não sei como dizer.
Não sei o que é certo dizer. E mesmo que eu soubesse, será que eu conseguiria?
Teria eu força para não embargar minhas palavras com as lágrimas que costumo
esconder? É possível que eu não conseguisse, mesmo quando tudo o que preciso te
dizer é que realmente sinto muito.
E
então as cores mudam, as vozes, os cheiros, o ar. Ainda estou andando, mas as
barraquinhas carregam elementos de um outro lugar, uma outra cidade. O vento
que cheira a folha e mato tem um sabor especial. Ele anuncia a chuva.
E
quando ela começa a cair, em meio aos raios de sol, algumas pessoas correm. Eu
continuo andando observando o céu semi encoberto, piscando por entre as gotas,
e digo claramente em minha voz fraca: “feliz aniversário”.
E
nessas palavras te desejo tudo o que não posso te dar. Tu, que fostes tão
amável. Tu, que me és tão querido. A ti desejo mais do que te dei, tu, ainda
sozinho naquela cidade distante.
A
ti, levanto minha voz, canto as palavras que tenho certeza estar pronunciando
errado, tentando ultrapassar o som da chuva e das folhas que balançam e te digo
mais uma vez: “sejas feliz”.
shelhass
Baseada
na música Happy Birthday por Suga Shikao
Comentários