Portão Doméstico
Chove forte. Chove. Tão intensamente como o ritmo em que meu sangue pulsa enquanto eu termino minhas malas. No espelho eu observo meus lábios ressecados, descoloridos e de algum modo eu pareço um pouco mais velha, um pouco mais fria, como a chuva lá fora. Eu respiro profundamente, com cuidado prendo a franja nova em um grampo estampado com a minha cor interna. Mais uma olhada rápida e me vou; desejando descobrir por que estou indo.
Entro no carro e respiro o cheiro maturado de almíscar. A chuva embaçou o vidro e minha única preocupação é colocar o som no lugar certo e encher meus ouvidos de uma melodia conhecida que me faz querer berrar ao som do meu próprio ritmo. Isso me tranquiliza durante o caminho molhado.
No alto da madrugada eu já estou voando, e a única coisa que eu vejo é um negrume infinito, apesar de o comandante ter avisado que a chuva não nos atrapalhará. E no mais real déjà vu, eu vejo a poltrona vazia e com um grande passo chego mais e mais perto. Meu corpo inteiro se prepara para a onda elétrica que está prestes a me sobressaltar; para minha surpresa, meu coração não bate desesperado como um viciado em heroína, e meus olhos não veem mais teu rosto antes conhecido e adorado, e os meus lábios sem vida não beijam como antigamente. Meus olhos não te reconhecem mais, não recordam as lembranças enfeitadas pelos teus traços simples e lívidos.
Por razões que eu desconheço, o frenesi patético de te vislumbrar por uma fração de segundo que seja, não se apodera de mim. E mesmo que eu sorria condescendente (e parta meus lábios), relaxo. Em saber que nem mesmo a antecipação a um possível encontro contigo é capaz de intoxicar o meu ser. Vedo meus ouvidos com o sotaque americano de um rock garagem, feliz comigo mesma. Extasiada. Ansiosa para descobrir quando isso aconteceu e como não percebi.
Fecho os olhos sonolentos e teus olhos âmbar me sobressaltam na escuridão dos meus pensamentos. Tua boca procura a minha – em sonho – e pela mesma razão que me fez partir, eu não te beijo como antes. De fato, nem encosto minha pele na tua. Meus olhos não te observam familiar, te rejeitam, assim como meu corpo, meu coração, meus lábios. Como eu.
Eu sequer conheço as razões e ainda assim as recebo.
Sei que estou mais velha e mais fria, como a chuva lá fora.
Enfim, minha mente descansa de ti pela primeira vez em anos.
shelhass
Baseada na música For Reasons Unknown por The Killers e situações reais.
Entro no carro e respiro o cheiro maturado de almíscar. A chuva embaçou o vidro e minha única preocupação é colocar o som no lugar certo e encher meus ouvidos de uma melodia conhecida que me faz querer berrar ao som do meu próprio ritmo. Isso me tranquiliza durante o caminho molhado.
No alto da madrugada eu já estou voando, e a única coisa que eu vejo é um negrume infinito, apesar de o comandante ter avisado que a chuva não nos atrapalhará. E no mais real déjà vu, eu vejo a poltrona vazia e com um grande passo chego mais e mais perto. Meu corpo inteiro se prepara para a onda elétrica que está prestes a me sobressaltar; para minha surpresa, meu coração não bate desesperado como um viciado em heroína, e meus olhos não veem mais teu rosto antes conhecido e adorado, e os meus lábios sem vida não beijam como antigamente. Meus olhos não te reconhecem mais, não recordam as lembranças enfeitadas pelos teus traços simples e lívidos.
Por razões que eu desconheço, o frenesi patético de te vislumbrar por uma fração de segundo que seja, não se apodera de mim. E mesmo que eu sorria condescendente (e parta meus lábios), relaxo. Em saber que nem mesmo a antecipação a um possível encontro contigo é capaz de intoxicar o meu ser. Vedo meus ouvidos com o sotaque americano de um rock garagem, feliz comigo mesma. Extasiada. Ansiosa para descobrir quando isso aconteceu e como não percebi.
Fecho os olhos sonolentos e teus olhos âmbar me sobressaltam na escuridão dos meus pensamentos. Tua boca procura a minha – em sonho – e pela mesma razão que me fez partir, eu não te beijo como antes. De fato, nem encosto minha pele na tua. Meus olhos não te observam familiar, te rejeitam, assim como meu corpo, meu coração, meus lábios. Como eu.
Eu sequer conheço as razões e ainda assim as recebo.
Sei que estou mais velha e mais fria, como a chuva lá fora.
Enfim, minha mente descansa de ti pela primeira vez em anos.
shelhass
Baseada na música For Reasons Unknown por The Killers e situações reais.
Comentários
' lábios ressecados, descoloridos e de algum modo eu pareço um pouco mais velha, um pouco mais fria... ' achei tão liindo isso, parece q vc tá me descrevendo... :|
sei lá mulher às vezes parece q a gente sente uma espécie de liberdade quando desata o nó q nos prendia a um sentimento, e acredite se começo pode ser algo bom, depois de um tempo esse mesmo sentimento intoxica a gente . :~
lindo, lindo... vc descreve tudo de uma maneira tão poética! ;$
a música de Teatro Mágico é ' sobra tanta falta ' . :D
;**
=)
Adorei
difícil.....
boa sorte ;**
Achoi que sou eu! (Pelo menos tem sido nesses últimos tempos).
Gostei, ainda mais por ser killers ;)
"Eu sequer conheço as razões e ainda assim as recebo.
Sei que estou mais velha e mais fria, como a chuva lá fora.
Enfim, minha mente descansa de ti pela primeira vez em anos."
Perfeitooooo
Beijo da Cah
E vc quer reformular o que? hein?
Assim como a natureza pode mudar sua face e trazer mudanças momentâneas no clima, nossos sentimentos podem agir da mesma forma, e sorrateiramente nos surpreender com mudanças, que quando percebemos, já fazem parte de nós.
Gostei tanto do teu conto quanto uma boa canção do Killers.
Teu DCFC vai ser afudê (como dizem no sul!), pois inspirando em Snow Patrol (ainda mais nessas músicas!), não tem como não ser, oras!!
Como tudo que você escreve!
Muito bom MESMO!
Eu venho no seu blog pra ficar babando no que você escreve .-.'
Eu queria muito ser um pouco menos retardada e um pouco mais capaz de postar alguma coisa que presta desse jeito @_@'
HSADHUKDSHUKSDHAKU
é tudo tão... Lindo *-*'
Tá já cansei de dizer isso mas eu preciso dizer de novo (?)
Enfim, eu sumi ._.' por mil e um motivos e agora vou ficar lendo o que perdi *-*'
DUKHSAUKHDSAKUHDSA
Beiijo =*